Sumário
A glândula tireoide é responsável pela produção de hormônios que regulam o metabolismo do nosso corpo e ajudam no equilíbrio do organismo. Sua formação acontece, ainda dentro do útero materno, enquanto somos pequenos embriões. As células que dão origem à tireoide estão na região da base da língua e, durante o desenvolvimento embrionário, essas células migram até a região anterior do pescoço.
Algumas alterações podem ocorrer durante essa migração das células, dando origem a uma doença congênita, ou seja, que já nasce com o indivíduo, chamada de Cisto Tireoglosso.
Você já ouviu falar sobre ele? Continue lendo este artigo para entender ao certo o que é esse cisto, como acontece a sua formação, os problemas que pode desencadear e quando e de que maneira essa deve ser tratado.
O que é cisto tireoglosso e como ele se forma?
Como dissemos, a tireoide se forma na região da base da língua, mais especificamente no forame cego. Durante o desenvolvimento do embrionário e o alongamento do embrião, essas células acabam por se alojar na região anterior do pescoço, deixando algumas células tireoideanas no trajeto cervical, ao que chamamos de trato tireoglosso.
Em geral, essas células morrem, porém, em algumas pessoas as mesmas persistem, formando o ducto tireoglosso. Após o nascimento, elas passam a produzir hormônios e podem surgir acúmulos de secreção, formando pequenos cistos. E são essas estruturas a que chamamos de cisto tireoglosso.
Trata-se de uma formação benigna, porém que pode apresentar, em aproximadamente 1% dos casos, tumores malignos.
Quais são os sintomas do cisto tireoglosso?
A principal característica do cisto tireoglosso é a formação de um nódulo no pescoço, mais precisamente em sua linha média. Dificilmente ele se manifesta em bebês, sendo mais comum os seus primeiros sinais a partir dos 5 anos de idade, quando o indivíduo começa a ter mais contato com outras crianças e apresenta infecções respiratórias mais frequentes. Pode ocorrer o surgimento em faixas etárias mais avançadas e até em idosos.
De um modo geral, o nódulo é indolor e com consistência firme, mas podem ocorrer inflamações e infecções do líquido contido nesses cistos, o que causa dor, inchaço e vermelhidão locais. Em um número menor de casos pode ocorrer a saída de secreção espontânea para a pele, caracterizando-se uma fístula. Pode, ainda, ocorrer infecções mais graves, com necessidade de internação hospitalar e uso de antibióticos endovenosos.
Como é feito o diagnóstico do cisto tireoglosso?
Por estar ligado à base da língua, o cisto tireoglosso costuma ser móvel quando o paciente coloca a língua para fora da boca. Com uma boa história clínica e com este sinal, conhecido pelo nome de Sistrunk (o cirurgião que estudou e descreveu o cisto e a cirurgia para seu tratamento), o cisto pode ser diagnosticado com uma boa avaliação clínica. No entanto, em geral são solicitados o especialista pode solicitar exames complementares para ajudar no diagnóstico, como a ultrassonografia e até punção do cisto.
Esses exames ajudam a excluir outras causas de nódulos cervicais anteriores, que podem ser desde cistos de outra origem até massas sólidas, confirmando o diagnóstico e proporcionando a melhor oportunidade para o tratamento.
Qual é o tratamento adotado para esse cisto?
O tratamento do cisto tireoglosso é cirúrgico, devendo ser removido o cisto e todo o trajeto do ducto tireoglosso, incluindo a parte central de um osso localizado no pescoço, chamado hióide. Essa cirurgia leva é chamada Cirurgia de Sistrunk, também em homenagem ao cirurgião que a descreveu. O uso dessa técnica reduz de forma significativa o risco de recidiva do cisto tireoglosso.
Nem todos os casos devem ser operados, já que alguns paciente apresentam o cisto tireoglosso mas não têm infecções durante a vida, sendo o diagnóstico realizado através de exames cervicais com outras finalidades (Doppler de carótidas, ressonâncias de coluna cervical e outros), podendo ser apenas acompanhados.
Já quando o paciente apresenta infecções/inflamações locais, o ideal é que seja feito o tratamento da fase aguda, com medicamentos anti-inflamatórios e antibióticos e, quando da melhora deste quadro, seja realizada a cirurgia em caráter eletivo.
O que acontece se o cisto tireoglosso não for tratado?
A principal complicação do cisto tireoglosso está relacionado à infecção e crescimento do mesmo, por isso a indicação cirúrgica costuma ser realizada.
Quando realizado o tratamento, a principal preocupação é com as recidivas, ou seja, o retorno do cisto. Isso ocorre quando o trajeto todo do ducto tireoglosso não é removido, o que é mais comum quando a cirurgia não é realizada por um cirurgião especialista, que tenha conhecimento da doença e do tratamento adequado. No entanto, pode também acontecer em caso de cistos lobulados, com mais de um foco ou outras alterações da normalidade. A recidiva pode ocorrer em até 5% dos casos.
Durante o procedimento, é muito importante que o cirurgião seja cuidadoso com a hemostasia, ou seja, a coagulação dos vasos sanguíneos da região para evitar hematomas, que podem ser muito graves, quando surgem no pós-operatório. Além disso, costumamos dar antibióticos para evitar infecções locais. Por fim, quase todos os paciente submetidos à Cirurgia de Sistrunk ficam com um dreno aspirativo no pescoço durante alguns poucos dias, para evitar acúmulo de secreções no lugar da cirurgia.
Como o cisto tireoglosso costuma se manifestar na infância é muito importante os pais estarem atentos e, caso seja percebido algum nódulo ou massa no pescoço, deve-se procurar um Cirurgião de Cabeça e Pescoço para avaliação clínica, realização de exames quando necessário e indicação de tratamento cirúrgico nos casos indicados.